Diz-me qual é o teu carácter (e não o teu sexo), e dir-te-ei quem és
Amanhã, dia 10 de Outubro de 2008, vai ser discutida (finalmente!) e votada no parlamento a proposta de lei que permite o casamento entre “pessoas do mesmo sexo”. Não quero ser pessimista ou agoirenta, porém, muito provavelmente, a votação será desfavorável, porque vivemos num país que (ainda) sofre de muitos condicionalismos (i)morais, que se rege por valores que estão completamente desfasados no tempo, que é refém de uma religião que se apregoa cristã (discriminar, e até condenar, alguém pela sua orientação sexual, é, de facto, uma atitude verdadeiramente cristã, não haja dúvidas), e outros “ques” que levariam o dia todo a ser enunciados. A democracia, apesar das suas virtudes, acaba por se aplicar só a uns (os que seguem a norma, seja em que aspecto for) e não a todos.
Por que razão duas pessoas que se amam, que pagam impostos como todas as outras e que queiram assumir, perante os seus familiares e amigos e perante a comunidade, esse amor não podem fazê-lo, só porque são do mesmo sexo? Para mim, o casamento (civil, entenda-se) é um compromisso que duas pessoas querem – voluntariamente (há situações em que não é por livre vontade, mas não vou agora por aí) – contrair uma com a outra pelos motivos que elas bem entendem, e não para “legitimar” o sexo (digo eu) ou para procriar (como alguém disse)… Que eu saiba há pessoas que se casam e que sabem, ou vêm a descobrir, que não podem ter filhos. Por essa ordem de ideias, o casamento dessas pessoas devia ser anulado, pois elas já não poderão cumprir o desígnio matrimonial (absurdo, não?).
Como costumo dizer, deixemos de lado os nossos preconceitos (sejam eles de que natureza forem) e analisemos a questão de forma objectiva. Chegaremos à conclusão que não faz qualquer sentido esta discriminação imposta pela lei (já basta a discriminação imposta pela sociedade retrógrada em que vivemos). É uma questão de igualdade, de justiça e, até, de liberdade que está em causa, e é por estes “valores” que me bato. Pode parecer, à primeira vista, que pertenço à comunidade gay, tendo em conta o número de vezes que a defendo, mas não é preciso pertencer a nenhum “grupo” específico para se ter consciência das injustiças e do sofrimento das pessoas.
Todavia, esta discussão vai sempre ficar pela metade, porque desta feita, só será equacionado o “problema” do casamento, ficando a faltar ser equacionado o “problema” da adopção por pessoas do mesmo sexo. Continuo a achar que duas mulheres ou dois homens podem amar tanto uma criança, e proporcionar-lhe um ambiente familiar estável e uma vivência feliz, como um homem e uma mulher. A meu ver, nesta matéria da adopção, o que importa não é o género, que nos definiu à nascença, mas o carácter, que nos define na crescença. Oxalá, todos pudéssemos pensar sem nenhum tipo de “censura” a toldar-nos o pensamento…